Cancelado em 2019, pode ser que, após quatro anos, o horário de verão volte à vida dos brasileiros. O Ministério de Minas e Energia (MME) revelou que tem feito análises, do ponto de vista técnico, para avaliar a adoção ou não do horário. Antes mesmo de assumir o governo, ainda em novembro, o presidente Lula já havia feito uma enquete no ‘X’, antigo Twitter, sobre o tema, com mais 66% dos participantes sendo favoráveis à medida. Alguns empresários, especialmente do setor de turismo, também se posicionaram a favor do retorno, alegando que o setor de serviços é beneficiado porque os estabelecimentos ficam abertos mais tempo.
Segundo o MME, com o relevante crescimento da micro e minigeração distribuída, percebeu-se um retorno do período de ponta para a noite, que tenderia a se reduzir com a adoção da política. “Todavia, outros efeitos precisam ser considerados, como aumento de consumo em determinados horários do dia e as condições energéticas do Sistema Interligado Nacional”, informou o ministério em nota.
Os dados mais recentes do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) mostram que houve uma queda grande da economia com a medida ao longo dos últimos anos, indo de R$ 405 milhões em 2013 para R$ 147,5 milhões em 2016.
Em Minas, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-MG) defende que a volta do horário de verão é benéfica para o setor. Segundo a conselheira da entidade, Karla Rocha, esse retorno representa uma hora a mais no faturamento dos bares e restaurantes, na medida em que as pessoas tendem a sair do trabalho e ir para o happy hour.
"O setor ainda lida com muitas dívidas, por isso, o horário de verão também ajudaria a obter uma melhora no faturamento e sucessivamente quitar pendências financeiras", observa Rocha.
Marcelo de Souza e Silva, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), também acredita que a adoção do horário de verão é positiva para os setores da economia em geral. “Com uma hora a mais de luz natural, a tendência é que as pessoas circulem mais pela cidade já que, ao saírem do trabalho, o dia ainda está claro, as lojas estão abertas e isso impulsiona o consumo. Essa movimentação impacta o comércio, bares e restaurantes, academias, espaços de lazer e locais de prestação de serviços”, diz.
A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio) também é a favor do retorno do horário de verão. Segundo Gilson Machado, economista da Fecomércio, apesar da medida não ter sido criada com a funcionalidade de impulsionar o consumo, ela contribuiu com o mercado durante os mais de 38 anos seguidos em que vigorou.
“No horário de verão, há a sensação de que o dia é maior, embora tenha a mesma duração. A pessoa chega de dia em casa e tende a caminhar, fazer outras atividades”, explica o economista.
Ricardo Franco Teixeira, coordenador do MBA em gestão financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), observa que não existe dúvida com relação à vantagem da economia de energia, já que a população exerce suas atividades em horários em que ainda há luz do dia. Mas ele lembra que, em contrapartida, algumas pessoas se sentem desconfortáveis com a mudança do ritmo do seu organismo. “A pessoa passa a acordar com o dia ainda escuro e, quando voltam, o dia se prolonga até mais tarde. As pessoas consomem mais porque ficam mais tempo expostas à luz do dia, mas para algumas pessoas gera desconforto”, explica.
E, para o economista, é este desconforto que deve ser colocado na balança para decidir, politicamente, se a economia vale a pena.
Tradicionalmente, o horário de verão entra em vigor nos primeiros finais de semana de outubro e termina em fevereiro do ano seguinte.
Entenda porque o horário de verão foi suspenso
Segundo o Ministério de Minas e Energia, historicamente, o horário de verão tinha como principal objetivo a redução de consumo de energia elétrica a partir do melhor aproveitamento da luz natural com o adiantamento dos relógios em uma hora.
Nos últimos anos, houve mudanças no hábito de consumo de energia da população, deslocando o maior consumo diário para o período da tarde. Isso levou o horário de verão a deixar de produzir os resultados para os quais foi formulado.
Veja a queda da economia (R$) do horário de verão ao longo dos anos no Brasil:
- 2016 - R$ 147,5 milhões
- 2015 - R$ 162 milhões
- 2014 - R$ 278 milhões
- 2013 - R$ 405 milhões
Fonte: dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)
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